Blog da Liz de Sá Cavalcante

Tempestade de sol

Ninguém pode viver, amar, ser por mim. Nada me esmaga: estou protegida numa tempestade de sol: me apropriei da morte sem lhe sorrir. Sorrir é vida que não se revela na alma: se revela no ser. A alegria dada a mim é uma tristeza infinita. O fim é o por vir de algo maior, uma força descomunal: se arrasta sem força, tudo que pensei ser força era apenas determinação vazia, mas não era indeterminação. A indeterminação existe apenas sem as oscilações da alma. A indeterminação é determinação do vazio, determinação do ser. A borda do ser é sua profundidade, meu refúgio, longe das margens da vida. Apenas meu olhar fica à margem da vida, distante, alheio a mim. O amor é distante de Deus. Apenas a devoção profunda da alma, da morte, é Deus, no meu descanso eterno. A eternidade é sem Deus: o descanso de amar é Deus em um novo amor. Para que o amanhecer, se tenho Deus? Viver é desnecessário, mas é tudo que posso oferecer a Deus. A única alegria que posso dar a Deus: é a de viver. Em Deus, nunca é escuridão, mesmo sem o amanhecer.