Blog da Liz de Sá Cavalcante

O dom de sofrer

Sou a realidade das mãos. A realidade das minhas mãos é a poesia, que em um deslize de perfeição, o sonho morre sem as cinzas do saber. Nada existe no saber. Saber é ser. Minhas mãos definem minha realidade emocional. Não morri para a eternidade que me espera. Morri para a vida. A eternidade, para mim, olhar a vida sem vivê-la. Deixa a emoção se perder nos ares da inconsciência, fazer nascer a consciência da emoção. Consciência é perder-me como se não estivesse perdida. O sol levanta a alma para o surgir do anoitecer. O sol se expande em vidas inexistentes. Amar o amor somente esquecendo-me. O tempo é o ficar do vento. O ser é um vento que se quebra no despedaçar da ausência. Não há ausência em ser vento num depois sem esquecimento. Por isso, não há um depois. O depois seria ser eternamente só, como eu, mas ele faz sombra para minha morte, por isso, não é só. Só é o antes no agora. Ser só é pertencer ao nada que existe dentro de mim. Sem antes, depois, apenas o nada, eternamente só: por isso, o nada foi feito para mim.