Se ao menos o silêncio fosse essa fala inexistente, me liberto em falas inexistentes, de tudo que sou, da minha alma. Se a inexistência falasse, eu a compreenderia como uma oração. A alma do corpo não é minha alma, é onde cessa a minha alma. Cessar não é deixar de ser, é ser. A imagem do olhar não é a imagem da vida. O silêncio é o olhar da alma que limpa o céu e torna o azul azul, onde as lembranças, colorindo o tempo, tornam o tempo um tempo de lembranças. Tempo, faça-se em mim. Ser só é o tempo: tempo de poesias, de amor, renúncias, de alma. A identidade da alma é o fim de uma poesia: fim de uma vida que nem existe ainda. A poesia é que torna a inexistência inexistente: como um sol que nasce do último sol. A coragem vê o amanhecer onde nada vejo. O nascer não é uma esperança, é a falta de desejar. Falo numa fala inexistente, e a vida retorna com começos, meios e fins. Não sei mais viver, aprendi a ser ausente para não morrer. Minha fala inexistente, paira no ar, como morte: como absolvição de ter vivido, sido eu um dia. Cada dia mais distante, até se tornar esquecimento, para estar incluída ao menos na morte, onde minha voz nasce especialmente para mim: é como se eu sempre tivesse falado, vivido. Viver… distância que aproxima morte…aproximação que aproxima. E o tempo me sorri do nada. Enfim, senti que agora posso vivê-lo.