Blog da Liz de Sá Cavalcante

Morrer antes que a vida tenha fim

No fim da vida, morrer sem a vida, morrer em mim, não para mim. Tudo volta a ser eu, até a morte, como se os meus pedaços estivessem unidos a mim em fragmentos de amor. O céu, falta de amor humano, faz-me humana. O silêncio tem medo do nada; esse nada sou eu. O sangue que corre nas minhas veias é a alma. A alma é o avesso do avesso. Nuvens de vento abrem-se em céus temporários. Algo me faz não conviver com o céu: ele, a sombra da minha morte. A vida é inconstante, como um ser de amor. Minhas mãos vivem do amor que lhes dedico. Minhas mãos são vidas, que deixaram de ser em uma poesia eterna, mas não comovem a poesia. As mãos abandonam-se. Sem esperar, salvam vidas, que nunca terão mãos, para concretizar a poesia. Mãos não querem ser vidas. Querem ser mãos, apenas. As mãos são contornos no amor da alma, estimulam o céu. Meus olhos vibram, declamam o que tenho por dentro, mesmo sem amor, alma ou imagem. Vou proteger-me de ganhar o céu em vida. Esta é a vida que tenho em mim: amor, amor, amor…