Nada se aproxima de ser só. Ser só é a definição da vida. Não há nada na vida, sem a proximidade de ser só. Se o amanhecer é uma vertigem, o que é o sol? O amanhecer vive uma distância sem tempo. O tempo do amanhecer é o amor. Tornar a distância de mim, perto do que sou, é morrer. A palavra nasce para cessar a tristeza da vida. Nada é nada na tristeza. O sonho de uma lembrança não é uma lembrança. Vivo a lembrança no talvez da vida. A vida tem lembranças diferentes do ser. A liberdade do nada é ser livre sem o nada. O deserto de mim é a falta do nada. Sem a falta fosse um nada, eu seria um ser. Falta muito para a vida ser nada. O que sonho pode existir? Quem em mim é sonho? O sonho é o tempo, é conviver com a minha inexistência, como se a inexistência, sendo um ser em mim, eu tivesse que viver. A falta é viver sem vontade, na vontade de Deus. Quando eu sacudo o vento da minha tristeza, vejo que não me resta senão ser infeliz para o sonho ser feliz, como se eu tocasse a alma, me queimando por dentro de mim. O sonho não vive a alma: conserva a alma dentro de mim, sem suspirar uma única vez. Suspirar é sem alma.