Blog da Liz de Sá Cavalcante

Reparar na vida

Se eu reparar na vida, sou morrer. O silêncio desperta em náuseas sem vidas, é o melhor da vida. Vida é a falta de ser. Que a falta de mim seja o melhor de tudo. Fecho os olhos no meu ver, para eu ser apenas meu olhar. A alma é o nada sem o ser. Viver da alma é não ter alma. O sol torna os momentos especiais. Tornar ao sol são momentos especiais, sem vida. É raro morrer. Mas vou morrer pela falta do fim. Teu sorrir, vida, substitui o céu em estrelas vazias. Eu senti o meu fim pela ausência do amanhecer. A distância de mim vai me levar até a vida, como uma estrela que se perde do céu para me ver sorrir. Mais do que céu, sou para ti, tristeza, sou tua vida, tua morte. O nada da minha morte é a falta de ti. Nada quero do nada da minha morte. Mas o nada da minha morte é essencial para mim. Nada justifica justificar. Apenas o céu justifica tanto amor em mim. Um céu sem morte, mais real, humano. Não há amor sem ver o céu. A negação do ser é o seu amor. Deslizar não é regredir, como se o nada não existisse. O nada é o que nunca será. Mãos bondosas, a segurar o nada como sendo o nascer da primavera. Flores despedaçam-se em primaveras infinitas. O amor é primavera da alma. Canções se ouvem sem solidão. O mar atinge a realidade, a superfície da realidade é o ser. O ser é mais real que a realidade, a realidade é a superfície da superfície. A vida é uma realidade vazia, que desperta a náusea plena de mim. Náusea é a realidade no fundo de si mesma onde a única presença é a realidade. O meu fim é a realidade de mim, sem me opor a mim. O céu é um corpo com o testemunho de Deus. O céu sem corpo é o Deus puro. Reparar na vida para o céu existir por si mesmo.