Não vivo o tempo, vivo sua falta. A vida é a falta do tempo. A falta do tempo no tempo, é o meu sentir. Sorrir é o sonho do tempo, mesmo sendo um sorrir sem alegria. Vou sonhar com o que vivo: a falta do tempo, que me preenche mais que o tempo. O fim é o inesquecível da vida. Esqueço a vida com a vida. Encantar-me com o nada é nunca sonhar. Ninguém tem a presença de um sonho. Sonhar é de verdade. Inspiro-me em sonhos nunca imaginados. O tempo foi um erro da vida. Existe tempo sem seu erro, que é a vida? Vida e tempo, dois erros que se completam. Flores expandem o céu. O céu se encolhe de flores. A vida são flores invisíveis, como um olhar que é vida. A vida escolheu o tempo em vez de mim. Meu único tempo é sem vida, é amor, é a escrita. A escrita não capta a vida, é melhor assim, alheia, isenta de tudo, como se eu não fosse minha escrita, meu ar. Minha presença na escrita é o sol. Nascer comigo é o fim de escrever. O céu se torna sol. Como reclamar do que me falta se o que tenho me falta? O tempo não volta, mas eu volto no tempo. E assim tudo continuou sem nunca ser.