Alma vazia na plenitude da presença. Aspiro vida como quem mantém o ar aceso, como uma vela apagada pela penumbra da vela. Escrever é acender a vela em mim. A perda continua, sepulta o sol em nuvens douradas de aflição. O tempo, memória sem adeus, é despedida sem o ser, por isso, não é um adeus. Apenas o ser é um adeus. Um adeus inútil à vida. Ao longo da vida, o adeus se arrasta no céu para não sentir o adeus do ser. Para sentir é preciso olhar o céu, sem pedaços de mim. É preciso sentir a morte, como algo natural. Assim, vou deixar de sentir o sentir, cuidar dos pedaços de mim. Escrever estilhaça os pedaços. Eu sou o abismo de mim. Sofra para que eu sinta meus pedaços. A vida é um fio que se rompe, como se fossem minhas mãos. O abismo das minhas mãos cessa meu corpo. O amor tem mãos de sonhos. Mãos nunca tocadas sonham mais, vivem mais, além do ser, além da potência da vida, da energia das mãos. Mãos possuem meu corpo, unem o corpo a mim. O som das mãos me tira da solidão como se a poesia fosse eterna. Poesias são a falta das minhas mãos com o som das mãos que são apenas som, vulto da imagem de um corpo. Corpo são apenas mãos. Mãos preparam a vida para a vida. Aspiro a vida como se o ar importasse. O ar é onde a vida desaparece. Sem o ar a vida é apenas ar. Minha consciência não é consciência de mim, é consciência de poesia. Consciência, te ter foi minha única consciência, tua ausência é minha inconsciência. Consciência é água, mata a sede, a sacia. O fim da consciência é a vida.