Blog da Liz de Sá Cavalcante

O que ficou ocupado em mim com a morte?

Vivendo de brisa, sinto meu coração bater acelerado, para morrer. Desejo coisas boas para a morte. Meu amor é maior que o fim do mundo, mas o fim do mundo é mais profundo. O nada é sempre nada. É o nada de um amor arrependido por viver. Vivo escondida de mim, como uma flor a desabrochar, sem o suspirar da vida. Morrer sem tristeza é como resgatar o nada, como um véu que não esconde a tristeza da tristeza. Mas a esconde de mim. O que tem fim é o céu. A tristeza não precisa do céu para existir. Não quero depender de mim, da morte, para ser feliz. Que o canto do céu se torne minha poesia. Nada se pode cantar sem o céu, a poesia, é o canto da alma. Se a liberdade fosse apenas o amor, não seria liberdade. Liberdade é uma tristeza boa, não precisa do amor para ser livre. Liberdade é olhar a vida e ficar sem palavras. A vida disse tudo sem uma única palavra. A ilusão é um amor isento do mundo, encontrou sua plenitude. Há um estremecer do céu, sem a minha ausência. A ausência é o pertencimento de tudo. Escutar o nada para não escutar a vida ao me escutar. Escutar a alma faz o nada viver por mim. Há muito a se viver pelo nada. A alma não dura no pertencer. Pertencer é a solidão da alma. Escapo pelo meu pertencer para uma realidade que foge de mim. Nada ficou no pensamento, por isso é real, por isso é triste. O esquecer foge ao libertar a alma. O olhar do outro é meu corpo em mim, na alma do nada. Olhar é tentar sair de mim. Nada fiz por olhar. Olhar age apenas vivendo em mim. Fazer do meu olhar outro alguém é ser só. Penso pela solidão como se eu tivesse guardada em mim, no teu olhar tristeza. É comum o céu no olhar, é incomum o olhar no ser. Não posso existir no corpo como existo para Deus. Estilhaçar o olhar como se fosse Deus. Sou um olhar, mas Deus não é um olhar: é o que existe dentro de mim. Deus se reconhece no meu amor, sem nunca o ter visto. Ver a Deus, não ver o amor. O meu olhar é a segurança que eu não tenho. Olhar me dá segurança para viver. Viver é um abismo intransponível entre mim e eu. O céu transcende a alma. Escrever dá vida à morte emocional, onde posso conversar apenas em suspirar, como um sol que anoitece. Soltei as rédeas da imaginação para a vida surgir. Nada com alma nasce. A alma surge com as atitudes. Não se nasce com a vida, a conquistamos. Tudo tem um caminho a seguir, um dia a vida seguirá seu próprio caminho e terei que seguir só. Seguir para nunca chegar a mim.