A certeza do corpo é o nada. A incerteza do corpo é o corpo. Sou uma abstração do meu corpo, da solidão em que vivo. A solidão é permanência de mim. A permanência de mim é vida. Mas há vida sem permanência. A alma não é permanência de vida ou morte: é um ficar sem permanência. Permanência é o esquecimento da vida. O esquecer, permanência da alma em mim. Tudo existe no esquecer, mas não posso ser feliz, então esqueço, com tudo que há de lembrança. A ausência me abraça eternamente feliz, como se meu corpo fosse meu corpo. Ela me abraça com meu corpo. O corpo só abraça melhor do que dois corpos, do que a alma. A alma é clandestina, alheia a mim. Vou fazer da alma a falta de saudade de viver, vivendo na alma.