Não sei o que é não ver: pode ser vida, morte, ou apenas esquecimento. Sei o que não vejo, não é ausente de mim. Sinto algo novo, cada vez que estou a morrer, talvez seja essa saudade revigorada que me faz sentir algo novo. Sobrevivi à vida, à morte, à solidão. A boa tristeza é sem solidão, é uma tristeza de pertencimento. A tristeza é coragem de viver. Sem tristeza não há mais o céu, como consolo. O céu que não consegue me consolar é o céu da minha morte. A dor não é consolo de morrer. A dor da alma sou eu. Quero sentir ao menos a dor de morrer ao morrer. O silêncio é a morte da alma. Vou existir onde não há vida, me desorienta a vida, como se o mar tivesse aberto no buraco da saudade. O mar se fechou, é apenas saudade, vertigem da vida. Sem inspiração me apego à vertigem até torná-la inspiração. Tenho vertigem de amor, mas não deixo de amar, mesmo sem forças. Se eu não amasse, não suportaria viver. Viver não é um obstáculo para morrer.