A demora de me amar é a vida. Sem a morte não suportaria viver? Se estou só no ontem, é porque o ontem me faz feliz, mas o passado não faz. Nada sinto pelo passado, nem mesmo solidão, apenas o luto de ter sido esse passado um dia, quando tudo que queria era viver. Não sei o que quero agora. A demora de me amar é ser o hoje no passado. A demora de me amar é o mar voltando para mim, sem o seu infinito. Fiz das estrelas a falta de amor por mim, que cessa na demora de amar, de me amar. O silêncio tem alma. Queria amar tudo para tudo ser o meu amor. A poesia é a antítese da alma. Colocar a alma no amor é diluí-la sem dissolver o momento de amar, que não é o amor. Perder o amor é ter alma. Amor não é liberdade. Deixo o amor sem realidade para viver a realidade de nós. Sonhos distantes, como se fossem alma. A alma é a ilusão dos sonhos para ter a alma plena no vazio de nós que não foi enterrado nem como poesia. Não sei se a poesia é solidão. Talvez a eternidade da poesia não possa chorar como a poesia chora. A poesia necessita do seu fim, como promessa de amanhecer, é a morte da poesia. Vida dos meus sonhos, não se vá. Partir por eu te deixar só. Apenas em te ver sou feliz. O desbotar cinza sem tristeza é o meu céu. Do contraste entre o céu e o mundo, a vida se desfez como se eu pudesse suspirar. O suspirar não resiste à morte, como eu resisto. A vida tem que ser sentida, não vivida. A demora de me amar é o preço que pago por viver.