Sinto o não sentir. A alma existe no concreto: eu a cheiro, a amo, e por isso a ignoro como uma vela nunca acesa. É tanta luz, não há espaço para a escuridão dos meus sonhos. Tudo é luz, realidade, que se confunde com a realidade do ser. A falta do ser. A falta do corpo não determina a alma, mas é alma. A alma já nasce alma, eu não nasci eu, me tornei eu pelos meus tormentos. Lembrar de ser já é ser. O cessar é a alma no puro sentir. Nada está na sombra do amor. Exausta de sombras e imagens em mim, quero apenas ser real, como uma flor em pétalas. Quero a saudade clandestina que torna o sofrer meu sofrer. Não tenho ilusões no meu olhar de ilusões. Adormeci na ausência de um adeus, que me afasta da falta de mim. Deixo minhas mãos serem alma, pela paz temida, para poder morrer de mim, ser cura para as minhas mãos de sonhos. Procurei minhas mãos: elas são minhas poesias concluídas por serem só. Vagando de uma poesia a outra, não me sinto perdida, triste. Sinto-me eu, mãos calejadas de sonhos, os torna vivos, reais. Enfim, posso morrer, na paz de Deus.