Mudar de alma não muda minha consciência. Vejo a morte na imagem da vida. O que vejo não existe com vida, mas existe com a morte. Submersa na morte, sinto o meu corpo: é como flutuar no infinito, como se eu fosse nós. Desejos de mulher é não conhecer o infinito, mas a falta de amor me fez mulher, tendo o infinito, mesmo sem amor. Devagar tento viver. Como viver, se a luz e a esperança voltam para a morte? Morte, espelho da alma que se quebra sem ver a alma. Alma, foste meu tormento. Quero tornar a morte algo bom. Que a morte não se insinue seja para mim o que não posso ser para ela: vencer. Se ela vencer, é como se eu tivesse vencido. Não quero vencer, quero apenas não morrer. Vencer por mim, não pela morte. Eu não quero morrer, quero que a morte sonhe comigo pelo que nos separa: meu amor pelos outros. A essência é real no pensamento da morte. Não tenho ilusões de ser: nasci morta. Alma, quando puder, te dou meu pensamento, são duas almas sem se dar. A alma nada tem a oferecer, está vazia. Continuar a vida em um vazio infinito. Se o infinito é vazio, isso é ótimo. Acaricio meu vazio como se não fosse a falta de mim. E me sinto melhor, vazia, feliz. Meu amor não faz parte da vida. O amor é como meu ser. O olhar é surdo como uma ferida que não sangra.