Meu olhar infinito não é eteno. Ter alma não é suportar tudo, não é guardar tudo ou ter tudo em si. Ter alma é amar despreocupadamente, até que o infinito ou o eterno me separe de mim. Separar-me de mim é me deixar ser, sem o infinito, sem o eterno. Há tudo a dizer do pouco que sei. A eternidade nada pode levar da vida, pode apenas sorrir. Nada pode me levar de mim, nem mesmo a morte. A morte ocupa um lugar vazio: o infinito. O lugar continua vazio no meu amor. Não existe impedimento no vazio. O vazio esclarece a vida. Não há lugar no vazio. O vazio declina no amor. Não sei se saudade é amor, me sinto vazia de saudade. Tudo tem fim nessa saudade infinita. Saudade é como ver o mar. O fim de uma ilusão é a saudade. O eterno e o infinito são apenas uma forma de ver a vida. Há vida para o infinito e para o eterno. Não há vida para mim. Não há como viver, mas dá para esquecer o que não vivi. Sei que vou sofrer por amor, mas amo. Amo sem o infinito, sem o eterno, para amar dentro de mim. A voz cortada como espuma é o som aveludado do amanhecer. Almas de seda desfazem sua costura. Superfície de seda para eu escapar do profundo, do real. A alma é a superfície do ser que entra em mim. Morrer penetra como pele. O tempo torna a superfície profunda. A superfície são as estrelas. Se o amor é a superfície do ser, nada precisa ser profundo. Precisa ser verdadeiro. Verdade e profundidade unidas é plenitude. Morrer é perfeito. A perda de morrer é imperfeita. Nada da morte é vida, tudo da vida é morte, não dá para separar o corpo do ser, por isso, o ser precisa morrer para haver sol. O eterno, o infinito, são uma maneira de te ver sem mim.