A alma é uma lembrança ruim: não ser o meu fim. Não há como me isolar na morte. A morte é que se isola em mim. A luz sem noção de morrer, ilumina ainda mais com sua morte depois da escuridão, não é a vida, é o nada tirando a luz da luz, sendo luz. Estou sendo hoje o que fui ontem em mim? Não sei nem se faço parte do hoje e ontem da minha vida. A alma é secreta, quando voa livre, tão livre quanto um suspiro. O suspiro aos poucos vai cedendo ao sol, a vida, ao silêncio. Que silêncio eu poderia ter, se a vida é o único silêncio possível? Como o silêncio satisfaz o possível, nada mais me resta, tudo se tornou possível pelo silêncio, mas o silêncio não é possível. Cantar é o pior silêncio. Poesia é o fim do silêncio, fim das palavras: é o comunicar vazio, leal, como o tempo divino. A morte é o silêncio ao se misturar com o amor. O amor fica entre parênteses, não sei se irá acontecer ou já aconteceu. O que percebo é este nada sem vida, sem mundo. Relutei a confiar em mim, quem confia? Nada para esquecer, nem mesmo a tristeza. O tempo para na dor. Quero sofrer pelas lágrimas que não chorei. O que é chorar por dentro de mim? É sonhar. Minha alma é um sonho. Que a tristeza seja uma chance de viver. Não vou deixar a oportunidade me escapar. Minhas mãos escapam do meu amor, como se eu tivesse viva: isto é escrever? Resgatar o inexistente num amor inexistente? De tão inexistente tornando a existência, existência da existência. Não há amor sem solidão. Não há mais este há, há apenas este ter. Minhas mãos me desenterram em palavras, que escuto em outra dimensão, longe do corpo, longe da morte, onde tudo é superficial, por isso, existe enquanto existir.
