Blog da Liz de Sá Cavalcante

Confiança na morte

Descansa, alma, sem alma, amor, deixa eu ser tua solidão. Submerge o nada, salvando a tristeza numa superfície de flores. Alma, confia na tua essência, que é a morte, até ficar seca de tanto amor. Confiar é viver, mesmo estando morta. Confio neste morrer, é o que me resta. O sol não sabe a dimensão do infinito e o ilumina assim mesmo. Restou do passado o infinito dessa alegria: ainda bem que existe o hoje, senão não sobreviveria a tanta beleza, tanta tristeza. Luzes que apagam o viver na definição das coisas. As coisas tomaram o lugar da vida, eu tomei o lugar do amor que sinto. Vidas vêm e se vão, o amor fica. O amor é vazio como a chuva no deserto. A vida não me faz sofrer, sofro por mim, por não conseguir deixar nada na vida ao morrer. Cristais de água a suavizar a dor, a perda, esse nós. Não é a morte, não é a sombra, é o espelho a se destruir. Pobre imagem, coitada, continua a existir, fiel a tudo, está além da vida e da morte, entre o indefinido e o definido. Que a paz de ver continue sem vida ou morte, apenas ver no eterno esquecer.