Cada morte é única. Ser única não é ser absoluta. A morte é a abertura do universo. Não sei viver sem as minhas palavras, diferente das da vida. É essencial essa diferença, assim diferencio o mundo do meu ser. O sol é o ser de todos os seres, mas não existe. Amanhecer é um sentimento. O sentimento muda de sentido, perde significado, como se eu entrasse dentro da sua sombra. A sombra da ausência somos nós. Correr de lugar nenhum é não ter medo de nada. Ficar, desaparecer, é a mesma coisa. Mas, nas palavras, a imagem se torna eternidade. Eternidade sem palavras. O ser não tem certeza de ser um ser, mas tem certeza das palavras que sente. Sentir para a palavra é nada. A ausência é apenas um arrepio. Para uma ausência sem arrepio, uma canção perdida pela presença da vida. Presença é a perda de ser alguém. Alguém é tão vago quanto ser. A obscuridade é acúmulo de luz. Lutas são vidas inesquecíveis. Espairecer o nada, com uma única gota de solidão, de onde tudo nasce e morre, sem se destruir.