Blog da Liz de Sá Cavalcante

Liberdade sem mãos

Criei uma liberdade sem mãos, nunca tocarei a liberdade para saber se é real ou confusão dos meus sentimentos. A presença é a perda das minhas mãos, onde me encanto: a poesia virá até mim. O instante afasta a vida, mas não afasta a poesia de mim. A vida é pequena para o meu olhar, para os meus sonhos. Caminho nos meus sonhos. O chão, feito de sonhos, desmorona meus pés, que não sentem meu corpo. A liberdade tem mãos invisíveis que não alcançam meu corpo, nem minha alma. Sinto o azul do céu na alma. O silêncio não consegue viver por mim. Vivências cessam vidas. Alma é imensidão, minha maneira de esquecer o infinito da poesia, por um instante de solidão. A força e a coragem que dá vida ao nada são uma ilusão. A paisagem desaparece na minha ausência, sou minha própria paisagem. Choro pela falta dos meus olhos. Meu chorar é meu olhar. Tudo transparece no olhar: meu único adeus. A distância da vida e das coisas me devolve o olhar, os olhos, minha alma. A alma não precisa de um olhar para ver. Tudo na alma é mais distante que a vida.