Blog da Liz de Sá Cavalcante

Desorientação

Sonos de ausência é me olhar no espelho, não me vejo e então eu consigo dizer sim a mim. Olhar-me é dizer-me adeus, mas não sinto o adeus, sinto o peso do mundo. É inexplicável, constrangedor esse adeus, parece natural, um bom começo. Não sei se há vida, sei quem sou. Escrever é minha sombra, que cessa de mim me amando. A solidão não é só, por isso, é triste. A vida parece uma montanha de lágrimas, e é indestrutível para quem chora. Saberei o que é espírito com o fim. O que as palavras não podem dizer, ninguém pode. Tornei as palavras solitárias por escrevê-las, dando-lhes vida. Dormir cessa a ausência da vida. Dormir é me manter dentro de mim. Nada há a sofrer dentro de mim, por isso sofro. A solidão de não sofrer é como ver o sol eternamente. O fim do sol é o meu olhar, falta do meu olhar. Sem o olhar, meu ser não existe. Eu não quero mais amar para viver. Não consigo viver perto de mim: é frio, distante, irreal, como o mar. A alma me mata, a morte isenta de culpa, de alma, vive o nada. Meu não viver não pode ser nada. Tantas histórias, nenhuma vida para contar. Falar de estrelas tem essência, que falar da vida, é tão inessencial quanto morrer.