As lágrimas mandam a distância da vida embora. Renunciar a alma pela falta que ela me faz sendo presença. A presença me faz ser nada. Não posso viver da minha presença, na minha presença. O nada somado ao nada cessa a vida. De que vida se pode viver? A vida são lembranças, então é eterna. Sei da vida quando ela não está em mim. Amar a vida é perdê-la. A lembrança, não posso ter na vida, a vida é a única lembrança verdadeira que permanece. A realidade do olhar é a alma. A alma é alma da realidade, não é alma da vida, do ser. As carícias da alma me tornam irreal. Não sei o que fazer com essa irrealidade, que é saudade da alma. A realidade dói, mas não fere. Sem a realidade posso sonhar com ela. Sonhar cessa a alma dentro do sonho. O que fiz para sonhar tanto assim? O melhor de mim é a alma. O amor, mesmo sendo de morte, é possível amar. Fiz do amor um sonho. Ver é não perceber a vida, incorporar a solidão para escapar da vida, não de mim. Há lembranças que não são lembranças de ninguém, é lembrança dela mesma. Um sonho que não se sonha, é encantamento. Parar o que faço para sonhar não é sonhar. Contida no nada, as flores do nada florescem, criam um novo sol, ainda mais perfeito. O que sobrou da vida foi um amor sem sonhos, sem ilusão. A ilusão do amor é a vida. A vida é um desencontro com a alma. A alma viveria se tivesse vida? Ou a alma nasceu morta para a vida? E se a alma escolheu não ter vida? Qual a reação da vida? Reação nenhuma, é a da alma, ela se adapta às circunstâncias. Vida é apenas uma mensagem de Deus.