Blog da Liz de Sá Cavalcante

O interior do isolamento

A alma me corta para que eu não me dilacere. Cortar-me é me deixar tão viva quanto a minha alma. Não vou até o fundo de mim para ter alma. Ir até o fundo de mim é morrer. Nada pode ficar no lugar da alma. Nem me lembro de quando tive alma. A alma é algo tão distante do que sou, que sorrio inocente em mim. Na morte nada de ruim acontece. É apenas o fim do que nunca acontece, nem aconteceu. A morte protege a alma. O nascer nasceu para mim, em mim. Qualquer nascer que tem vida nasce em mim infinitamente. O nascer sem vida é a morte de um adeus. A morte é o espelho da alma. A alma existe apenas no espelho. Quando olho a alma no espelho, parece que vou morrer. Mas é apenas a minha saudade o que estou vendo. Não há saudade maior que a própria saudade: é quando a saudade pode ser invisível, sem o véu que a esconde. O significado não traz a vida de volta, torna mais definitiva sua partida, que é como um fim poético de gratidão pelo que passou e jamais voltará. Essa é a eternidade da vida!