Reconheço que morri, se a existência de Deus se tornar existência em mim a criar vários infinitos, é o fim da poesia, e o começo de mim. Começo que terá fim pela poesia. Vejo meu fim pelo ainda não. Ainda é o assim mesmo, e daí? O sol caminha entre a vida e a morte. Suas pernas são seu coração firme na vida, na morte. O coração da morte é falta de notícias do fim. A vida nasceu do amor. A dor de viver é o amor da vida por mim. A vida não pode nascer como nasci. Eu não tenho de ser o tempo que me falta, ele é que precisa ser o meu amor. Amor, foste meu único tempo de morrer ou viver por ti. Leio nas palavras sua imagem divina, na imagem, a palavra perde o ar, nunca a palavra será poesia, se tiver uma imagem. A imagem me surpreende sem poesia, parece ser minha imagem. Minha imagem, a descer do céu para o além, é apenas esquecimento. Esquecimento mais essencial do que a falta de adeus da vida. A vida é apenas a falta de um adeus. Nada me surpreende mais que o desaparecer da alma numa estrela. O sol caminha com o coração descrente da vida, mas perto de Deus. Deus é minha única fé. Fé é morrer sorrindo, não morri em vão. Morri para mim! Em mim, a morte é tudo, é nada, é o que acontece apenas no amor. Amor que ninguém tem igual, na vida e na morte, vence a vida e a morte para poder dizer: Deus! Nada mais há para ser dito: descobri o silêncio do amor.