O espelho tem muitas personalidades, por isso, nunca me vejo no espelho, vejo nós todos no espelho, quando não estou consciente da múltipla personalidade do espelho. O espelho é um mundo preso à ficção de ver. Vou morrer no que vejo. Se ao menos visse a mim, a minha morte, teria um significado. Ver nunca foi não morrer, não tenho medo de não morrer, não tenho medo de morrer, tenho medo de escutar minha solidão, como escuto o mar. Renascer para a morte tem mais valor do que a vida. Viver para a morte, apenas em sonhos, é possível. Renascer para a morte, reluzir, afastando o nada: alma que se escuta. São inseparáveis a alma e o nada. A ausência é o que existe. O que não existe é presença. Remexe alma até nada se mexer. A realidade é distante no mar. Quantas vezes o mar pode me sorrir, até entrar nas suas águas, de onda em onda, de céu em céu, até perder o sorrir no meu sorrir? O céu não tem medo do amor, tempestade, do ser, da vida, da morte. O céu tem medo de nada poder oferecer a Deus. A eternidade do amor é a sua morte. Não há espelhos em se morrer, para ser apenas o que vejo em mim.