Blog da Liz de Sá Cavalcante

Olhar sem imaginação

A alma afoita, sedenta, numa vida morta, deixa meu olhar sem imaginação, imagino sem o olhar como se olhar fosse minha imaginação. Fico bem apenas na loucura. Fui tão longe na monotonia, onde até os monólogos cessam. Falo para mim como se fosse o outro a me ouvir. Ouvir é a distância que me separa da realidade. Tudo é real no silêncio, não é real para mim. Real é a maneira como as palavras me olham, mesmo no silêncio. Os olhos se acostumam a pensar. Meu olhar é o meu pensamento. O céu são escadas de vento para minha alma incorporar o nada. Ver é esquecer. Eu não envelheci, apenas dei ao tempo um pouco de mim. A morte não muda de corpo, de alma, fiel ao que existe. Não é porque sou isenta da vida que não sei viver. Viver não tem destino, deixa-me sem futuro. A alma é o meu futuro. Futuro é deixar a realidade como ela é. Se eu já tivesse ausente de morrer, não poderia amar como eu amo! O inexplicável se explica amando.