O direito de amar é ser amada como sou. O direito de amar pode ser a falta de corpo, falta de alma, ou então pode ser eu. O ar da alma é por onde respiro. O ar da alma me deixa sem direito de amar. Tudo que posso dar de amor é o ar da minha alma, que deixa de ser o meu ar se eu amar. Abro a vida com os pedaços que lhe deixei da minha solidão. Deixaram amor na vida, ela recusou, quer apenas meus pedaços de solidão. Deem-me o direito de amar aos pedaços. Salvar pedaços é mais do que salvar a vida. A vida não alcança os pedaços. A vida não é feita de pedaços, por isso, é sem valor. A alma não descansa: não é feita de pedaços, aos pedaços. Converso com minhas poesias. Minha morte se aproxima da poesia. Não há poesia em viver. Os mesmos olhares, a mesma fé. A morte torna a vida bela, agradável. A morte é morte dela mesma. No nevoeiro, ficou o adeus do olhar como sendo o sentimento que restou da vida. A vida surge no nada, mas não surge no ser. Fecho os olhos no nada para ver o nada como me vejo. Ver perde o significado no nada. Mas o que eu teria para ver se não fosse o nada? Escrever poesia é ser cega no nada e não saber a diferença entre o tudo e o nada. O nada é o olhar além do infinito. Mas o olhar é o fim de tudo. Mesmo assim, o olhar não se determina no fim.