Renascendo, como uma sombra que cessa a alma. Renasci como ausência em ser. A revelação do ser em mim é a morte. Vivo o depois da ausência da vida como nada. Chorar minha morte transforma o nada em tudo. Sinto o tempo acalmar a vida. O céu entristeceu, não pelos mortos ou vivos, mas pelas pessoas que procuram o céu sem a realidade do céu: que é apenas o sorrir de alguém que sorri apenas no céu. Eu seria feliz ao morrer? Não sei. Sei que procuro ter no céu o que tive em vida. Não existe interior, existe o ser perdido na morte. Morte, como é fácil amar na morte, como se tu, morte, não fosse morte. A tristeza não é morte, é apenas andar nos próprios passos. A vida foi deixada para trás pelo esquecimento, como se assim eu tivesse uma realidade apenas minha. Quem sabe assim o esquecimento me faça lembrar da morte? De mim? A lembrança isola a realidade num abraço de amor. Amar é o único esquecimento que dói na alma. O fim se realiza em si, não como morte, mas como o sofrer sem agonia. Apenas a eternidade anseia pela agonia. O fim, começo de ser, é o nada, precisa unir o começo no fim. A morte maior, misericordiosa, é sem fim. Nada senti na morte. A vontade de ser é a morte. Nada vai além da morte. Além da morte não há mais nada. Dividir o fim com o que não foi visto como fim. O fim é perdão de Deus. Não existe Deus no fim, ele é vida. A vida existe sem Deus. Nada pode ser a perda do que não perdi. Ninguém pode perder o nada. O nada não é fiel a si mesmo. Como ainda acredito no nada? Acredito, pois o nada não tem alma, é apenas um sentimento. Ser rejeitada não é uma perda, é a falta do silêncio na vida. A vida é mais silenciosa do que o silêncio, mesmo sem o silêncio. Apenas o silêncio sabe do que vivo, eu mesma não sei. Tudo falta ao amor, mesmo sendo amor. A falta do amor é tão essencial quanto o amor. Comecei amando as pessoas para depois sonhar. O que resta da alma é o fim de sempre mais, onde nada acaba. O que resta do corpo é a falta de alma. Desconhecer o amor para conhecer algo a mais do que o amor: meu ser nas minhas poesias. Deixo a alma ser a sombra da minha ausência, num sol que apenas eu vejo. Ver o amanhecer o faz esquecer de mim. O amanhecer nunca poderia me esquecer, me deixar sem luz, mas ele me esquece ao me iluminar. Restou o depois sem saber que é o depois, uma fonte de amor. O amor não pode renascer, e eu não consigo nascer, nem mesmo por amor.