Apenas a morte faz companhia à morte. Essa é minha morte, ninguém a tira de mim. A eternidade, amor que sofre no assobio do vento, na claridade do sol. Mas o que importa não é seu amor, mas sua insensatez. Algo nasce da eternidade, como se a luz do sol fosse inessencial. A ausência sem eternidade não é ausência. Vida e morte é o amor que sinto, que se parecem. Deste parecer, nasce a eternidade, que não se parece com esse parecer. Os olhos não significam ver. Ver é escuridão que isola o nada na luz. A falta não é ausência. A falta é me pertencer ausente, como se a falta pudesse ser eu. A morte é o alimento da alma. Sem a morte a alma vai sucumbir. Tudo é estranho na alma sem a morte. Aprender no amor não me impede de aprender a morrer: é como andar pela primeira vez, descobrindo a vida pelo que não é corporal, e sim espiritual. Vou tomar um banho de vida, tirar a morte da minha pele. A vida é pele, alma, para um espírito indiferente, que me fez retornar a viver, na vida de amanhã, onde este momento não importa mais. Deixa o meu momento ser a tua única realidade. O momento é real sem o viver. Realidade é morrer. O sentimento da vida não capta a morte, vive no nada. O silêncio cessa na morte. Silenciar é viver o silêncio como se fosse apenas uma palavra, que não acolhe a vida. Essa fúria de viver na alma é o sorrir da vida. O problema não é apenas amor, mas como amar. A alma vicia o ser no nada. O ser não partiu no nada, partiu em si mesmo, como um acontecer eterno sem saudades. Aceito o silêncio num porquê. O futuro de ser triste é o silêncio. A vida sente falta de mim, como sendo uma ausência suportável de existir. A vida não sabe viver. A vida se preocupa com o sol, as estrelas não se preocupam comigo. Nascer e morrer é a vida que nunca terei. Sobrevivo a alma, à espera de morrer ou de ser. A alma não pode tornar a vida melhor. Morrer no tempo de ausência é deixar o sol caminhar nas nuvens, desculpando em luz, por me fazer feliz. Mostre-me onde está esta alegria, onde está a vida. A vida está onde deve estar, para não ficar longe de mim. É inútil viver. Que pode ser viver pra quem sofre no mundo, no céu, nas estrelas? O deserto do céu é o ser. O amor é solitário no ser, como uma luz para a luz. O amor não é seguro. O som mudo range em mim. Cobri de asas o desespero, para ele se sentir preso a mim. O corpo de Jesus está dentro do meu corpo morto. Esqueci-te, vida, pelo meu corpo, minha alma é lembrança de vida. Compus a alma com meu corpo. As vidas voltaram a ser vida, a morte voltou a ser morte. Não há mais silêncio, há sabedoria divina, que me encanta na solidão de morrer.