Guardo lembrança. Fecho os meus olhos, mas não vai cessar meu ser de mim. Meu olhar são lembranças do nada, a sonhar, amar, gritar por dentro de mim, para não falar escuridão, morte. O tempo apaga a poesia, conserva um pedaço de mim, pedaço que não foi corroído pela poesia. Chora, pedaço de mim, para que eu te leve em mim, e que eu possua o teu sorrir, o teu amor, a tua alegria. Sempre será um pedaço de mim, assim como as estrelas são um pedaço do céu, eu sou um pedaço de um pedaço meu. O tempo é pedaço de mim, que é esquecido quando amo. Amor, palavra que salvou a vida. O silêncio é a palidez da alma. Perdi a vida para a vida. Nada é tão sublime como as nuvens deixando o sol nascer. A vida são apenas lembranças da morte, vivas em mim como um corpo que segue só. Sem mim, eram meu corpo, alma, agora são lembranças. Lembrar das minhas lembranças não me torna eterna em abraços ausentes. Fui mais do que um abraço, sou essa saudade de mim. Fecho os olhos, pronuncio a saudade no tempo que me resta. Percebo que vivi muito, ainda há muito a viver. Nunca estive só. A morte é que ficou só em mim, como o teu sorrir: ausência que retoma o abandono, deixando o passado no esquecimento do futuro, que lembra do agora, como sendo o meu ser. Venha comigo, tristeza, pelo mar que impede a tempestade do meu ser. Sem essa tempestade, o sol é inútil. O sol é a união dos meus sentimentos, que se unem para morrer por mim. O pensamento vive em um amor morto, aniquilado como uma nuvem que se afasta do sol. Nada é feliz sem a lembrança do nada. A vida, sem lembranças, faz nascer o sol, e esse amanhecer, e agora minha única lembrança, meu amor eterno. As lembranças são meu sono, meu despertar. As lembranças confiam na minha morte, confiam em mim. A morte, vazia de lembranças, me deixa morrer em cada desespero, em cada perda. Perder é o abraço da alma, onde nasce a coragem de sentir meu corpo, mesmo sendo para morrer.