Arrebenta-me fascínio. O fascínio de morrer é como viver para mim o que não pude viver para outro. Morrendo, posso viver para o outro e me descobrir no outro. O fascínio de morrer inclui a realidade no ser. Mas realidade é excluir o ser de si mesmo. A realidade não é o ser, por mais excluído que ele seja, não é a realidade. Realidade é conseguir não me ver. É vital não me olhar, se eu me visse, não saberia mais quem sou. Para que o nada amanheça é preciso poesia, por isso a poesia não é o amanhecer. O nada amanhece poesia, a falta do nada cessa a vida. A poesia sem o nada é como eu sem alma. A alma consegue ser tudo, menos o nada. O somente é a alma sendo o nada. Na alma o nada sente vazio. A dor é uma forma de esquecer o nada com a vida. Mergulho no infinito de mim para me ver. Ver é o infinito do infinito. A alma não precisa do tempo, da vida, da lembrança, para saber de mim. Ela me conhece pelo meu amor. O amor não tem a sabedoria de Deus. O fascínio é onde posso viver e ter alma. Cada alma é um mundo. Por isso o mundo não pode ser deixado no mundo. Não há fascínio em morrer: este é o fascínio de morrer.