O sofrer não tem existência, não consigo trazer o sofrer para minha existência, então faço da existência arte para minha dor. Para ser da alma, tem de sofrer, senão a existência sou eu, não é o sofrer determinado na alma. Tem almas que se tocam sem existir. Se existissem, não se tocariam. Tocar no passado para não sentir o nada, vale a pena? O nascer é a inexistência do ser, onde o nada é o ser. Meu coração se comprime, se aperta, fica minúsculo perto da vida. Por isso a vida nunca será amor, vida são perdas que perco. O amor se perde nas perdas, como se soubesse ser feliz. Feliz como são as perdas. Ninguém é feliz sem perdas. Perder faz parte da alegria. O sofrer para a existência não é perda, é solução. Para o tempo, a alma é o real do tempo. Apenas a alma sabe como esperar morrer. O tempo não pode solucionar a minha vida, mas me faz viver no amor, e logo o tempo se torna amor. Como responder ao meu amor que sofre? Com lágrimas, é claro. Lágrimas que preenchem as faltas, a carência, mas não é presença de nada, por isso me preenchem, vão além da presença do sacrifício de existir, além do sacrifício de amar o desamor. Algo me une ao nada, sem sofrer. Meu sofrer não é desamor, é vazio. Nada querer é viver. Viver é o sintoma da doença do nada. O nada: esperança de não viver. Deixo meu amor no nada da realidade. Meu amor nunca será nada. É apenas o nada que se comunica. A vida não espera o vazio para me esquecer. O esquecer não é vazio, vai além do amor, da poesia.