Blog da Liz de Sá Cavalcante

Sentimento mutilado

Ser é abstração de ser. A solidão é esquecida se eu for só. O sentir é mutilado pelo próprio sentir. Mesmo assim, o sentir sente como se estivesse inteiro. Não há nenhuma forma de sentir sem sofrer. O sofrer é como um sonho. Por isso, não preciso sonhar em sofrer. A alma não é determinável como alma, a vida é a indeterminação sem alma. Amordaçada pela alma, pelo seu silêncio. Sorrir é silêncio. Fui colocar a vida na vida, olhando, contemplando o nada. Contemplar o nada traz paz. O medo traz paz. A paz mata. A paz desaconselha a ser feliz. O sentimento mutilado, que é o meu sentir, me salvou a vida. A vida do esquecer é a lembrança. A lembrança de ser feliz é amor. O que sinto sem amor? O amor me ajuda a esquecer tudo que a vida não pode ser. Mutilaram meu sentimento morto, inacabado. Tudo que sei é sem vida. Não há infinito na morte. O amor sofre de medo de alma. A alma não resiste ao amor. Amor, cobrança da alma. A morte é possível apenas pela presença. A presença é a morte. Vivo apenas no meu olhar. Tudo que olho ganha vida. E eu, perdendo a vida. Mas perder a vida por uma presença é um privilégio: talvez essa seja a presença de Deus: não ficar só.