Apenas os objetos têm a percepção de existir. A percepção cessa as lembranças, como se as lembranças pudessem ser percebidas como ser. Mas o ser nunca adere ao que pensa, por isso meu ser não percebe que pensa, penso ser meu pensamento, imaginação. Lembranças são percebidas se tocadas pela alma. Eu resgatei o nada da lembrança: continuei vazia. O vazio é não morrer. Acredito em mim: isso é ser feliz. Amor significa vida, vida para mim e para o outro. Minha sensibilidade me afastou da vida e a segurança me tornou distante de mim. A falta de percepção é a vida no ser. A verdadeira vida é a distância de mim. Nada é mais distante do que eu de mim. A distância me aproxima da alma, como se o sorrir fosse meu. Sorrir é vida que não está ao meu alcance. A unidade é a sobrevivência da alma, num único ser para mim, para mim, sou um único ser em busca do outro. Nada digo para mim, nada amo para mim, e sim para o outro. A alma é o nada multiplicado, mas o nada nunca será a minha vida. Vida, não pode ser o sol, não pode ser o dia, nem pode ser sua ausência. A ausência é uma dor que permanece, mas não sinto a dor, sinto a pureza da ausência, como um resto de mim. A realidade não precisa da minha vontade. A vontade é interior, nunca será um mundo. O mundo é a falta de um interior que isola o irreal. Não há realidade sem o irreal. O irreal é mais necessário que o real. O real não domina a realidade. Não há realidade no sofrer para sofrer, preciso criar outra realidade: diferente de mim.