Blog da Liz de Sá Cavalcante

O tempo foi a vida em mim

A vida e o tempo oscilam entre o nada e as obrigações. A vida, sem o tempo, razão para não ser em vida o que o tempo foi para mim. Não há tempo, no céu ou na vida, que me faça morrer em ti, solidão. A falsidade do desaparecer é o corpo necessitando viver. A alma tem um corpo que não se divide em alma. Confundo o que é corpo com o que é alma. Mas nada no corpo lembra a alma. A alma sofre de alma. Respiro alma para sentir sua ausência. A ausência cessa se eu respirar em mim. Nado no meu respirar, como se o meu respirar fosse água para matar minha sede. Não sobrou alma para o amor. O amor é feliz sem a alma. Eu preciso da alma para amar, ser feliz. Minha alegria é a vida. Apenas em viver sou feliz. Mas sei que minha alegria não me ama. O que fiz para ser feliz? O que chamo de alegria sem a falta de mim? Sou o que desejo ser? Que falta a alegria pode fazer? A falta de uma estrela perdida do céu. Convivo bem com as distâncias de mim. O céu está mais perto de mim do que eu de mim. Correspondi aos sonhos, às expectativas das estrelas. Não me reconheço em mim, como reconheço cada estrela do céu. Conheço até o brilho particular de cada uma, mas não conheço suas almas, seu espírito, mas posso sonhar sem estrelas, sem estar acompanhada da minha solidão. Eu fui a solidão de uma estrela, não sou mais nada. Tentei substituir a estrela pela poesia. A poesia não tem a grandeza de uma estrela. Eu não sou eu ao pensar, então apenas admiro estrelas, tem mais valor do que pensar.