A morte tem que ser o nada. Se a única realidade é morrer, vou viver! Viver até que a realidade se perca no meu viver, que torna a realidade infinita, como um pedaço de papel que se vai com o vento. O vento da realidade é o pensamento. Eu queria ser os pensamentos da vida. Ser eu é não pensar em mim, na vida, deixo o pensamento escorrer como sangue para não escorregar no pensar. Pensar é um pensamento da alma. O balançar do amor embala a alma. Não sei o que vai ser de mim na alma, mas sei o que vai ser de mim em mim. A morte não tem nada de morte, mas sua realidade está morta, dentro do céu, que perdeu a sua realidade para Deus! Deus não é uma realidade, é espírito. O corpo sai de dentro da alma para construir outro corpo para a realidade nascer do amor. A vida não pode fazer do tudo o nada. O nada não nega que é nada, nem mesmo nega para a natureza morta. A realidade morta é uma natureza viva: esse é o encanto da poesia. Tudo morre como a sombra de Deus. Ninguém tem o sol nas mãos, mas o tem na alma. A liberdade do sol é o meu olhar. Meu olhar se torna sol do sol. As minhas mãos são uma realidade viva. Pelas mãos, pelo tocar e ser tocada, nasce meu corpo. O corpo ganha vida. Uma realidade menos morta não me deixaria tocar o céu, nem sonhar, não me deixaria ser eu. Convivo melhor com uma realidade morta, onde sei amar, ser, conhecer-me. É por onde a realidade da poesia desaparece, para eu ter outros sonhos, outra realidade. Apenas a realidade morta não é imaginada. Pela realidade morta, liberto-me da poesia, não há mais o que sofrer, viver, estou tão morta quanto a realidade. Somos duas mortes numa única irrealidade: a de viver. As mortes buscam mais a vida do que as pessoas. É preciso valorizar a vida, por isso, torno minha vida útil: ensino a sonhar, assim como me ensinaram a ser eu. Tudo passa, a morte passa, o amor fica.