Tem que ter algo que não seja vida, seja bondade de existir, onde vivo sem sentir que vivo. Não me dar a alma para me dar a mim. Eu morreria se eu perdoasse minha alma por amar. Mesmo dentro do corpo, a alma foi abandonada no céu. Alma é fuga. Não posso fugir da alma. Fico fugindo de mim. O ser se explica pela alma. A alma não fica no fundo de si, ela é a si mesma. A superficialidade do ser é a alma. A alma, dentro do ser, tem a realidade sem o ser. Tudo falta ao ser na alma. Alma, realidade da vida. Procurei outras realidades, não encontrei nenhuma. A realidade tem que vir de dentro de mim. A alma é feita de despedidas. O nada é consciência de tudo. O nada existe apenas em mim. Em mim o nada é verdadeiro. O além é o nada. Acho que a vida me escreveu nela, por isso, não escrevi: eu estou dentro de mim. Sugando a alma, compreendo o vazio de morrer. A esperança de escrever é mais eterna que escrever. Não é o amanhecer que amanhece, a falta de alma é o amanhecer. As marcas da alma estão no meu corpo como ferida aberta. Dei um nome para a morte: o depois no depois. Não posso dar um significado ao amor, mas posso dar um significado ao meu ser. Por que preciso de um significado se me conheço sem nada significar? O significado não tem um significado do que não seja o ser, o ser não tem significado. Quer significado maior do que a falta de significado? Fora isso, continuo a amar, sabendo que o amor nunca significará algo que não seja sua ausência. Tenho dúvida de ser com todo seu significar, não tenho dúvida de amar sem nada significar.