Blog da Liz de Sá Cavalcante

O amor pelo nada

Não vou insistir que a alma me ame pelo amor, mas por ela mesma. A leveza é amor. Consciência é amor que destrói a vida na inconsciência sem amor. Ame-me mesmo sem a leveza de existir. Ame-me mais ainda por existir. A vida é justa no amor que sinto, não no que sou para ela, que é o mesmo que ser para mim. O amor é a injustiça do ser com a vida, com outro ser. Não há morte para a ausência além da voz sem voz que absorve o silêncio sem ser ou pensar. Pensar não define quem sou, é um olhar desconhecido para a vida. Criar a existência no que já existe. O olhar é irreal para o que vê. A distância da existência é a falta do nada. Aos poucos, algo não fica da minha vida: viver. Mesmo assim, vou tentando ter a vida, sem viver. Tudo se perdeu por viver. O amor pelo nada, única certeza de viver. A alegria não tem vida, mas não está morta. O sonho feliz é morte na alegria de sonhar. A ausência não pode dar fim ao silêncio do sonho. O sonho é um só: ser, como se o amanhã fosse continuação do meu ser. Amanhecer não é nem a vida, é a certeza da inexistência sempre nascendo e morrendo em mim.