Blog da Liz de Sá Cavalcante

Tenho de ser

Tenho de ser até onde não existo mais na tua lembrança. Ter de ser vem depois do ser. Às vezes respiro no que não sou, por isso, sou apenas eu. Em mim, ser eu é apenas escutar o nada que me torna mais do que sou. Lembra do que sou. Lembra de mim na inexistência, na delicadeza das flores, que é minha inexistência, minha delicadeza. A alma é construída no mar do tempo. Mas a delicadeza de morrer não é construída aos poucos, flui no meu olhar, que morreu antes de mim. O que se faria olhar se tornou o esquecer no nada. Nada trará de volta o meu esquecer. Agora, o agora é este esquecer no meio do nada. Esquecer é ser, amar, enquanto o mar não é meu esquecimento, por isso, o esqueci por vê-lo como mar. Nem o mar me esquecerá, é quando sei que posso fechar os olhos, entregar-me ao mar, sem o mar, sem ter o mar, como existência do meu sol, que não aparece no mar da solidão. O meu sol é sempre poesia. Pode abrir meu sol em poesias sem fim. Destacar o nada do sol é confiar na alegria do sol. É muito sol para uma única vida. Nada se perde na vida, nem mesmo o seu fim, por isso mereço todo sol, toda vida, sem sofrer. Você fez do sol minhas mãos a tocar o infinito. Pena que você, vida, seja intocável, como o calor do sol, que não fica nas minhas mãos, fica na alma, no meu amor.