Blog da Liz de Sá Cavalcante

A presença não é estranha por si mesma

A presença é a alma mais perfeita, o céu que permanece, o amor que repousa em mim. Tenho medo do que a vida abandona por minha causa. Não quero sacrifícios, quero amor. A estranha presença da morte é o medo de amar. Quem ama é eterno, com ou sem a sua presença. O vazio sofre por ter uma aparência, que sofre antes da aparência do depois, que torna o vazio incompreensível, mas as coisas são vazias, tudo é vazio, aceitação. Antes, nada era vazio, tudo era negação. Eu senti esse negar na alma, nem por isso a alma se tornou negativa. A alma é a única presença do céu. O ser é alguém para si. A luta do céu é amar o mundo como sendo um lugar perdido, que não necessita de amor, mas o céu ama o mundo, por isso crio palavras no nada. O nada, essência da palavra. A palavra segura meu corpo e solta minha alma. Nunca perguntei se as palavras me querem, mas, quando escrevo, sinto que elas me desejam, amam-me. Onipotente, sofrendo na poesia, nada me atinge. Sofro, como se a poesia tivesse me ignorado, mas eu me ignorei, sem dar amor às poesias. É difícil amar o que já tenho: a poesia. Escrevo para a poesia sair de mim, mas ela me incorporou, não consigo sair dela. Os fragmentos, abandonados pela poesia, são meu mundo, minhas poesias. A razão é apenas aparente. Não há razão na vida, na poesia, elas se assemelham, morrem-se até recuperar a razão, quero morrer junto.