No sonho, o sonho pode não ser a realidade de sonhar. Sobreviver como um sonho escapa à vida. A solidão de quem vive é sonhar. O tempo é a solidão de Deus. A morte não é diferente de sua realização. Tudo que a morte realiza, ela se torna. Deus é apenas Deus, não é substância ou matéria: é o que tem que ser, que é Deus, mas é humano também. O fim do amor é a alma, por isso sobrevivo à alma, como se eu não pudesse regressar a mim. O conforto de morrer é como se fosse a lembrança eterna de mim, mais viva que o sol. O sol não consegue mergulhar no mar, mergulha na terra, onde não há lembrança. Se o mar fosse a minha alma, ela seria infinita, parecendo com o infinito de te perder. Ninguém sabe se morreu, mas sei quando entro no mar sem alma. É sempre a alma o fim do mar, do pertencimento, da ignorância de ser feliz. Nada se parece com a alegria do mar. A alegria do mar é legítima. Mas é difícil ser feliz como o mar, fazer de cada despedida alegria. Afunda o mar em ausências, não me vejo no espelho, vejo-me em mim, e assim o mar retorna, sendo eu. Nada restou do mar: restou apenas eu. Atingir o amor com o amor é uma deslealdade com meu espírito. Não existe pele para sobreviver, mas ainda existe o meu ser, sem vida. Lutar contra mim é lutar contra o outro, contra a morte, contra a vida, o amor; a espera acaba com esse “contra”, fiz-me ser pela espera de mim. Sendo amada, minha alma está mais vazia. Não me importa o que acontece, importa-me o vazio. Alcancei o fim sem morrer. Não há limite na morte. Lembrar é não morrer. Lembro-me de cada detalhe da minha morte, sem eu ter morrido.