A ausência é o tempo, o que resta do tempo é a presença. O tempo desaparece dentro da sua alma, continua ausente, como se a vida lhe pertencesse. Por isso, o tempo se sente sem a vida, mas percebe que é vida pela sua ausência. O tempo é ausência de vida, por isso é a vida. Gastei o tempo nas próprias palavras do tempo. O tempo são palavras que a poesia desconhece. A poesia é o tempo do tempo, individualidade do nada da poesia. Nada substitui a falta de realidade. A ausência é presença de realidade. A realidade é carência da alma, onde a vida cessa por amor. Escrever é o silêncio da alma, faz-me ter alma, mesmo sendo uma alma ausente, por ter a vida ao seu lado. O silêncio escondido é como a vida partindo, mas partindo na esperança de voltar. Mas voltar é a única presença de alma. Alma é apenas retornar. Por isso, não tenho medo de partir, tenho medo de retornar, como se eu tivesse encontrado meu destino na falta de retornar. É solitário retornar, é como uma luz que se apaga no fim do que sinto. O fim do que sinto é este retornar, por isso não retorno, sinto.