Quero me descuidar de mim, da vida, para não ser triste. A tristeza da tristeza é o cuidado da tristeza da tristeza comigo. O controle de ser triste é o nada. A despedida de ser triste é o fim da vida. Ouvir é sem despedida, é conviver com ser só. O nada, alegria da ausência, que queima nas águas tranquilas do amor. A alegria de não ser para mim o que sou é o que sou. Ser é não ser mais, onde o silêncio do mar se mistura no não ser de mim. Eu sou o meu mar. Às vezes, pergunto ao mar a razão de eu existir, e as ondas devolvem para mim a dúvida de existir. Às vezes, acho que o mar é a única existência possível, que reveste o mar da saudade de morrer. O sol é coberto de sol, até nunca mais encontrar o que foi perdido em ser sol: anoitecer, descansar a alma. A inexistência se confunde com alma. A alma devia ser inconfundível. Não há alma para a alma, assim como não há amor em ser. Deixa-me no céu das aflições. O tempo não é certeza de morrer. Posso morrer longe do tempo. O que me faz só é o tempo no amanhã. O anoitecer, descanso da solidão. Estrelas dormem por mim, assim nasce a poesia, livre da minha tristeza. A poesia sabe apenas amar. A tristeza não tem poesia, é apenas afrouxar o ar da solidão.