A poeira da morte é uma vida. Vida que nasce da própria vida. Varrer a falta da morte, sem a poeira da morte, que impregna o nada. É como se o nada tivesse pele. O depois, sem mortes, não acontece. Vou desaparecer depressa, como se eu fosse o sol nascendo, de mim, do meu desaparecer. É preciso ter alma para desaparecer sem morrer. Morrer é aparecer para sempre. O sempre existe, por amor à eternidade, mesmo sem nunca se verem, eles se amam tanto, é como se se vissem eternamente, pelo amor que um tem pelo outro. Nunca se veem, mas se conhecem sempre, pode passar o tempo que for, haver a perda ou decepção que houver, são inseparáveis de alma, tão unidos, que parecem ter o mesmo significado. A eternidade existe no para sempre, o para sempre na eternidade, sem ser presença de nada. O que fez comigo? Tornou-me presença ausente. O jardim das ausências tem mais flores. É tão funda a ausência, que mergulho nela como se ela fosse o mar: é o mar da minha ausência.