Blog da Liz de Sá Cavalcante

A tortura de existir

Rindo à toa, sem a tortura de existir. O silêncio canta o encanto de viver. Viver é esquecer de mim, da mesma forma que o sonhar amanhece de sol. O amor, seco por não sofrer, é sem ausências. A ausência no sofrer é a perfeição da vida. A linguagem da ausência é o ser; a linguagem da aproximação é o nada. A lembrança do meu corpo é o esquecimento do meu ser. Apenas me esquecendo de mim, lembro-me de ti. A vida espera que eu a esqueça, como te esqueci. Esqueci-te, sem sobreviver ao nada da tua ausência. Existir faz parte da ausência. A ausência é minha vida. Não posso sentir a ausência distante de mim. A falta é o fim da ausência. Sou ausente de tanta alegria. Meus pensamentos não vão partir pela ausência. Pensar é ausência. Olha para mim, que vai acabar ausente de mim, pelo vazio do meu olhar. O vazio é o meu coração a bater. O que a união ou separação é sem amor? Nada! Há mais pessoas do que vida, por isso as pessoas não sentem nem mesmo o vazio. Apenas o vazio não é vazio. Resseca-me de amor. Amar é ser vazia, mas não é o vazio. O vazio de ser não está nas coisas, no ser, na vida, está no significado do vazio, que dá vida ao amor. O vazio, sem um significado, não é vazio. As palavras tentam dar um significado ao vazio. Não há nenhum significado sem o vazio. A morte trava o sentir com amor. Amor, que devia existir na vida, ou, ao menos, no vazio da vida devia existir. Sinto a falta da existência, que existe sem a vida. Mesmo sem a existência, ela é presença especial em mim. Não há lembrança sem o vazio.