Fecho meus olhos para os olhos, vi o mundo e o céu juntos. Meu corpo não está inteiro, mas sua presença está. A presença do corpo é a alma. A alma não pode ir só até o amor. A esperança tem vida, vida que não quero para mim. O que me diminui cresce sem ausências. A ausência é um olhar que desaparece sem tristeza, é como se eu tivesse sonhado ver. Ver não é sonhar, é falar com meus sonhos. Nada sei dos sonhos, sei de mim, da minha poesia. A tristeza é sonhar acordada. À vida, tudo pode faltar, menos a alma. A alma permanece até nas faltas. Não há falta dentro de mim, não tenho interior. Meu interior é o meu corpo. Dei-te o nada de mim, como se não fosse nada. Para sair a alma da alma, é preciso esquentar o sol de amor. Amanheço pela alma, como se ela fosse o meu amanhecer. O mundo amanhece só, como se não houvesse que amanhecer. Amanheço pelo mundo que não amanhece. A vida torna o amanhecer um nada. Mostra-me teu amanhecer, para eu ver se é diferente do meu. Meu amanhecer é meu corpo inteiro, sem o meu corpo interior. A alma não consegue me levar de mim, minha dor a impede. A alma se foi no meu suspirar.