Estou lendo a vida, sem palavras. O tempo, mancha do passado, invade o nada com amor. As palavras escritas com vida não são a vida. A vida é o inesperado, que não são palavras, não é nada. Necessitar do outro é viver. Algo não existe em mim para eu viver. E se ser só for imaginação? Como posso ser só se a vida existe em mim, por mim? O que me falta para ser só? Tudo me falta para ser só. Minha solidão é ver o sol, o vento sacudindo a Natureza, a minha solidão não é viver. O que foi perdido era para ficar no passado. O passado se esconde no corpo, com mãos frágeis, que derramam o corpo sem passado. As mãos não se derramam, tocam a alma, como se fosse um resto de ser. Imagino a consciência sem me imaginar. A falta de consciência é o ser a se encontrar, a conseguir viver. Nada vive na consciência, por isso vivo. Olho em volta, vejo a vida no meu sorrir. Temer ter mãos é excesso de sonho. Pelo sonho, não tenho corpo, alma, ser. Sou apenas um sonho sonhado por alguém. Tudo sonho sem o sonho. Não quero te ver nos meus sonhos nem na realidade, alegria, quero que sejas eu, sem a realidade para atrapalhar. Vivi mais do que o sonho, do que a realidade, vivi a vida, como se algo me esperasse na morte. Enfim, algo.