A alma ficou distante com a proximidade do nada, onde vejo a alma concretamente. A vida de quem vive é menos vida do que a vida de quem morre. Morrer é vida que acaba fácil, como se a vida do morrer estivesse além do fim, fim que não é morrer. A perfeição do nada é a única eternidade da vida. A vida torna o nada imperfeito, mais imperfeito do que a perfeição pode ser. Na imperfeição, há paz. Apenas a imperfeição de ser vive, o ser não vive a plenitude da imperfeição, por isso é triste. Se o amor é imperfeito, por que não posso ser imperfeita? A perfeição do nada é infinita dentro de mim. A alma é uma perfeição idealizada, que existe apenas como amor, desengano da vida. O sono não se lembra de ser só. O sono é a companhia da alma. A alma e o sono se tornam a mesma coisa. Não há como deixar o vazio mais vazio, então morri nesse depois de mim. Algo morreu em mim por não me deixar. Morrer sem a inexistência não é morrer, é descobrir a vida. Desdobro-me em mortes que já morri, faltam tantas mortes para morrer em mim. A morte pode ser um olhar, um gesto, ficar, a morte pode ser despedida. O corpo sem morte não é um corpo. A vida é o corpo dentro do nada, dentro de um corpo. O corpo não é o que vejo ou o que escuto. O corpo é a ausência de ver, escutar, como um amor que permanece até o fim. O fim é o começo do amor. A falta do fim não é a continuidade do amor. A morte é meu corpo. Não se pode comparar duas vidas, duas pessoas, dois amores. Nem o pensar, nem Deus, nem o amor, a eternidade, me tiram desse eu. Não se pode obscurecer Deus. Deus é a verdade, mesmo sem eternidade. A eternidade não é a verdade de Deus, a verdade de Deus somos nós todos, unidos ou desunidos por essa verdade, que nada significa para a vida, tudo significa para o amor. A ausência de Deus é a vida, o céu, o mundo. Deus foi perfeito em morrer?