Ver é sonhar, onde não há memória. Eu não estou bem na memória de alguém. Minhas lembranças precisam ser esse nada. O nada pode ser qualquer lembrança. Converso com a agonia, mas não consigo falar com a tristeza. A alma é errada em viver. O tempo é a vida indefinida entre o ser e o nada. O tempo, indefinição da vida, faz viver. A vida se define sem o tempo. Nada se fala do tempo, então não se pode falar da vida. Carregada pelo desespero, que não me deixa morrer. Às vezes, consolar-me é pior que o desconsolo. Ver é sonhar, onde a memória se destaca, para junto do desespero do sonho. O sonho necessita de mim, não de poesias. Mas se pode sonhar sem poesia? Tudo foi dito no nada, sem ser para o nada. O amor é a única memória que vale a pena. Nada pode tirar o amor da memória. Eu fui a memória de algo, que não pertence à vida, nem à morte: o amor! Mas o amor, sem memória de si mesmo, vive no meu pensar. Pensar é amar. A vida é o fim, mas é chamada de vida. Vida que não alcanço no meu despertar. O despertar da vida é a morte. A morte é minha única lembrança. A morte precisa da ajuda de Deus, não para ser morte, não para esquecer, mas para continuar o que não existe. Não existe a morte, existe a morte para a morte. Na morte, meu ser não é apenas morrer. Se o nada recuperasse a memória, não existiria vida. Vivo, pois não tenho o que fazer além de viver. Quero fazer outras coisas que não sejam viver. Viver para dizer não ao mundo.