Morrer, provar que vivi um dia. O não ser é a eternidade do ser. Há pessoas que não têm imagem para sempre. O ser não necessita de imagem, necessita ser, como o mar a se esconder no universo. Se o ser tivesse que ter um rosto, o que seria esse ser? Para ser, é preciso não acreditar ser. Ser numa descrença por amor à vida. Amo só, como o sol, a lua, o céu. O céu se afastou do céu. Ninguém se afasta do céu sem céu. O céu do amor ampara o céu do céu. O céu não foge da realidade. O ser não tem realidade, várias realidades se ofereceram com arrogância ao meu ser, eu não quis. A realidade é o rigor, a ausência do ser. Nada ficou em mim por viver. Tudo ficou em mim por morrer. A vida é capaz de tudo para viver, se eu não morrer na minha ausência. A vida quer viver sem mim. Mas ela me ama, irá comigo até o inferno de ser, que não é apenas existir, mas me fazer existir pela vida, como se eu não tivesse ali, perto da vida. O sol chora, como se não pudesse dar vida a mim. O amanhecer se impõe ao sol por amor. O amor é apenas este amanhecer, que me condena a viver. A luz do sol adormece minha alma, na esperança de que eu volte para mim.