A falta é a intimidade. Tocar o nada é mais do que tocar, é sentir o nada, personificar-se do nada. O adeus é uma fuga de tudo. Encontrar o nada, onde não há adeus, há a palavra “nada”, que o vazio expulsou da vida, do amor! O amor é nada, é tudo, onde as lágrimas revestem o céu de certeza, deixa-o mais azul que o seu azul. O corpo é um nada com vida. O eu somente é um eu na morte. A vida é onde fica o limite entre a morte e o ser! A palavra não deixa o limite se desviar do ser. O limite é o ser, às vezes é o nada. O tempo nunca é descoberto, suspenso no nada. A morte é a única consideração com a vida. Um instante rompe a vida em sucessões do nada. Tocar o vazio é torná-lo real, sem me dilacerar, apenas a paz da vida, que dorme. A realidade é um vazio sem vazio, um amor sem amor. A segurança de um vazio é o nada. Tudo se perde no amor: o meu ser. As vivências são distantes de amar, são apenas solidão. O que é vivido é apenas para ser esquecido. Tudo sinto, apertada nas paredes do esquecimento. A morte é o único caminho nos descaminhos de ser. Quando olha a distância, não vê a mim, vê a vida desaparecer como um sopro eterno de vida, num sonhar além da vida: é monótono como o mar, como amar. Não preciso dar o meu sentir à realidade, o sentir é a própria realidade, a aparecer para si mesmo. É sempre uma surpresa reaver o sentir pelo sentir. A sombra da ausência é um sol enriquecedor. Não sei se o vazio tem a mesma beleza do sol, que se esconde no universo dos pensamentos, onde o sol é sempre sol, eu sou sempre eu, independente do que sinto, do que possa sentir, sempre serei eu! Estagnei no sentir, com o meu olhar entre mim e eu. Como sinto falta de ser, sendo em mim o que não sou?! E se isso for o meu ser refletido nele mesmo? O que é o ser sem o ser?! Há mesmo esperança de ser?! Mesmo vazia, ainda é esperança! Passei da vida para o ser. É imprevisível ser, às vezes penso que estou sendo em ti, tristeza, o que não fui em mim! Uma voz cala o silêncio com palavras. O adeus não é uma fuga, é um jeito de viver o silêncio na minha voz, longe da consciência do mundo, onde a vida é apenas este silenciar, de paz, de amor. A vida não é consciência de nada. Pela vida, o mundo perde seu encanto. Não dá para comparar o mundo e a vida: a vida jamais se alcança, o mundo é o interior do meu ser, que me deixa morrer, quando o ser é. A falta de morrer se aproxima mais da realidade de ser só, mas essa não é a única realidade entre mim e meu ser. A abertura da vida é o nada, onde se abrem possibilidades. O nada não vive sem o ser, sem a vida. Não há vida para o nada. Se vivo sem o nada, é pelo desejo, pela fé, de que nada diminui ou substitui o ser em sua morte. O que diminui não é o ser, é o desejar existir, tão distante quanto amanhecer! Parece que o amanhecer afasta o desejo para longe, onde o ser é ele mesmo, noutro amanhecer, que só existe dentro de mim! Não amanheço por mim, mas pelo meu ser, que amanhece mais do que o sol. Eu trataria o amanhecer pela falta que ele faz. A noite é um pedaço desse amanhecer, mas estagnamos pelo sol, pelas estrelas, pela lua, por um pedaço de céu, que nos faça amanhecer, senão agora, depois que juntos tornarmos o amanhecer real. Tão real que ele amanheça em minha alma, nunca em mim!